VI


Quando chego à biblioteca, procuro por ti por entre as estantes, mesmo sabendo que não é dia de aqui estares. Tenho pena quando não te encontro, mas agora sei que, mesmo quando não estás, não fico sozinha. Deixas-me sempre alguma coisa escrita. Por isso vou à estante do costume e abro o livro do costume. Encontro um envelope e abro-o. Passo os dedos pelo papel, que está escrito com a tua letra e leio-o:

"Gosto do facto de, para além dos nossos breves encontros, esta ser a única forma de comunicarmos. Não combinamos encontrarmos, mas a verdade é que sei sempre quando te vou ver e, acredita, a expectativa toma conta de mim durante grande parte do dia. 
Ah, fiquei com o teu cachecol. Deves tê-lo deixado cair ao sair do café, na semana passada. Reparei nele quando ia a sair, mas já não fui a tempo de to entregar. E ainda bem. Tem o teu cheiro. E de cada vez que olho para ele lembro-me ainda mais de ti e desse teu sorriso que teima em não sair do meu. Hoje, para além desta carta, deixei-te mais um pouco de mim. Gostava de saber se descobriste o que é. 
Um beijo, Pedro"

Encosto a carta ao nariz e fico com um sorriso parvo estampado no rosto. Sim, descobri. A carta tem o teu cheiro. Consegues sempre surpreender-me. Sorrio ainda mais quando percebo que não chegamos a trocar contactos. O que quer dizer que a única forma de reaver o cachecol, é ver-te novamente. Sorrio e sorrio apenas. Acho que nunca fiquei tão satisfeita por perder alguma coisa.

Ficção (Capítulo VI) 
Podem acompanhar os restantes capítulos no separador "Ficção", aqui


Por vezes apetece-me mesmo desistir de tudo, largar a minha capa de forte, deixar cair todas as mascaras do "está tudo bem" e mostrar toda a tristeza, magoa e fraqueza. Mas não. Acabo por usar o meio sorriso de sempre. Não o sorriso falso. Esse não gosto. Mas sim o que não dá nas vistas, nem atrai perguntas. O meio sorriso que faz com que ninguém note. No entanto, num olhar mais demorado, é possível reparar que os meus olhos não sorriem. Esses não acompanham o sorriso fraco que tento soltar. São os olhos que mais transparecem a verdade. Mas como não são vistos por todos, estou segura. Assim permaneço neutra. Como sempre...

"I might be in love with you. I’m waiting until I’m sure to tell you though."


"For a few minutes we kiss, deep in the chasm, with the roar of water all around us.  And when we rise, hand in hand, I realize that if we had both chosen differently, we might have ended up doing the same thing, in a safer place."

Veronica Roth, Divergent

V


Chego à livraria à hora marcada. Enquanto espero por ti vou explorando o espaço. É tão calmo e cheira a café e livros antigos. Estou a percorrer as estantes quando chegas, sem que me consiga aperceber. Vens de mansinho e perguntas-me baixinho: "Será Inês, o teu nome?". Estou de costas para ti e sorriu sem que consigas ver. "Talvez", respondo, sem me virar. Afinal o teu palpite estava certo. O teu braço desliza pelo meu, enquanto tentas chegar à estante à minha frente. Fizeste de propósito. Sinto-me a arrepiar e o meu coração palpita. "Devias experimentar este", dizes-me, tirando um livro. Estremeço ao som da tua voz calma e volto-me para ver o que me recomendas. Não conheço o livro e fico tempo mais do que necessário a ler a sinopse. Não olho para ti. Estás tão perto, que sinto que se o fizer descobres todos os meus segredos. "O que achas?", perguntas-me. "É parecido com um que já li", digo-te. Os meus olhos finalmente encontram os teus e consigo captar cada traço do teu rosto e perceber como és belo. Nunca estivemos tão próximos e desejo não me afastar nunca. Quero ficar aqui a olhar-te...

Ficção (Capitulo V)
Capitulos anteriores:  I, II, III, IV



É já amanhã que se acabam as minhas férias e tenho de voltar à rotina da vida de estudante. Será o último semestre da licenciatura e, se tudo correr bem, daqui a quatro meses estarei licenciada em Psicologia. O mestrado vem de seguida e, para tal, tenho de pensar bem nas opções que tenho. Não falta assim tanto para escolher, mais uma vez, o que quero para o meu futuro. Estas férias serviram para tudo, menos pensar na faculdade. Precisava urgentemente de férias. E quando digo isto, acreditem que não é por capricho. Física e psicologicamente estava uma lástima. Foi um acumular de cansaço tal que achava que não ia aguentar. Foram meses a acordar às 5h30 da manhã, bastante stressantes e atulhados de trabalho, trabalho e mais trabalho. As férias serviram para aliviar o cansaço e acho que estou pronta para mais. Wish me luck!



"It's your life. And I'm gonna do everything I can to make sure that you live it. Even if you don't want to admit it, you are giving up. I'm not gonna let you give up. I just want you to fight for it."

The Vampire Diaries

IV


A semana passada não tive tempo para esperar por ti, embora o meu desejo fosse ver-te mais uma vez. Nunca temos hora marcada, é certo, mas às quartas-feiras sei que te encontro por cá. O que dizemos um ao outro pode ser muito pouco ou nada, mas as poucas palavras que trocamos dão-me vontade de te ver mais e mais. Como não pude ficar, decidi deixar-te uma mensagem escrita no livro que me emprestaste e pedi que te indicassem a estante em que a deixei. Assinei com a inicial do meu nome, na esperança que descubras as restantes letras que o compõem.
Hoje, passado uma semana, avisam-me que me deixaste outro livro na estante do fundo. O meu primeiro instinto é folheá-lo para ver se tem algo escrito por ti. E tem. Vem num pequeno envelope como se fosse uma carta:
"Aqui tens mais um livro que te irá deixar imersa no enredo. A semana passada fiquei com pena de não te ter visto. Já me habituei a ir para casa com a imagem do teu sorriso gravada na minha memória. Quanto ao teu nome, confesso que tenho um palpite, mas gostava que mo confirmasses quando vieres tomar café comigo. O que me dizes do café da livraria da rua paralela à faculdade? Espero por ti, para a semana às 15h. Serei aquele com um livro na mão. 
Pedro"
Li a carta cinco vezes e de cada vez que a li, absorvi cada palavra atentamente para que nada me escapasse. Naquele momento a minha vontade era pular de alegria, mas lembrei-me que estava na biblioteca. Por dentro, toda eu era fogo de artificio. Será o nosso primeiro encontro de verdade. 
Ficção


Como alguns de vocês repararam, comecei a escrever uma pequena história há algumas semanas. A história encontra-se dividida em pequenos capítulos, publicados uma vez por semana, geralmente à quarta-feira. Não é nada de muito elaborado. São pequenos momentos que compõem várias vontades minhas. E esta era uma ideia que já tinha há muito mas, infelizmente, nem sempre o tempo ajuda. No entanto, desde que comecei as férias, a inspiração instalou-se e estou satisfeita por voltar a ter um tempinho para me dedicar à escrita. Fiquei satisfeita com os comentários às publicações, pois mostram que receberam bem esta pequena história. Este tipo de feedback dá-me ainda mais vontade de continuar. 
Se ainda não tiveram oportunidade de ler e o quiserem fazer, podem encontrar os três primeiros capítulos aqui, aqui e aqui



"Who knows what’s gonna happen after this? I don’t know. So if this is the only life, why am I not doing everything that I wanna do?"
James Franco


III


Estou mais uma vez de volta à biblioteca. Venho devolver um livro e requisitar outro. A isto junta-se a vontade de vê-lo novamente, mas hoje não tenho sorte, visto que as aulas terminaram na semana passada. Lembro-me que não chegamos a combinar o tal café... Dirijo-me a uma das estantes, quando oiço passos atrás de mim. Não me volto. Será ele? O meu coração acelera. Não pode ser. Paro a meio do corredor, volto-me de repente e... é a senhora da recepção. Trás um livro na mão e diz-me que o lá deixaram, para que me fosse entregue. Acho estranho, mas recebo-o. Não conheço o livro e quando o folheio, um papel dobrado cai do meio de duas páginas. Abro-o e leio:
"Hoje não pude estar por aí, por isso decidi partilhar um coisa contigo. 
É o meu livro preferido. Acho que vais gostar, já que temos um gosto semelhante. 
P.S: Não me esqueci do café. 
Pedro"
Até aquele instante nunca me tinha apercebido de que não sabíamos o nome um do outro. Já sei o dele, mas ainda não lhe disse o meu. De certo modo, este tornou-se o nosso ponto de encontro sem darmos por isso. Não combinamos nada, mas vimos sempre na esperança de nos encontrarmos. E desta vez ele sentiu que devia justificar a sua ausência e deixar-me um pouco de si. Foi um gesto bonito que me deixou com um sorriso nos lábios o resto da semana.

Ficção




"When you love someone, they’re a part of you. It’s like you are attached by this invisible tether, and no matter how far away you are, you can always feel them."
Glee